Como prometido, eis treze microcontos que publiquei em meu perfil no Twitter no passado. O leitor notará que há histórias de todos os tipos: fantasia, terror, ficção científica, contemporâneas. Algumas nasceram de modo inusitado (durante uma ida ao banheiro, por exemplo). Espero que gostem.
13 microcontos
25/10/2012Contos para ler durante o cafezinho
19/10/2012Imagine contar uma história em um único parágrafo. Este é um desafio ao qual se lançam os escritores de microcontos, gênero pouco difundido fora do universo digital da Internet. Topei com a primeira referência a esses há mais de um ano: em entrevista a um jornal, o escritor pernambucano Marcelino Freire almejava publicar mil contos no Twitter – cada um deles com não mais do que os 140 caracteres permitidos.
Conto: Paixão Rubra
12/10/2012Adiante estava a deusa de meus delírios mais pervertidos. O corpo voluptuoso fulgurava como que envolto em chamas, o vestido a cair sobre sandálias que deixavam entrever pés delicados de unhas tingidas em sangue. Um rasgo generoso subia ao baixo ventre, revelando uma coxa farta e torneada, envolta numa segunda pele igualmente flamejante.
Conto: Tragédia
28/09/2012Não sei bem como aconteceu, não me lembro. O mundo ao meu redor era lúgubre, cinzento, sinônimo de sofrimento e horror. Um tapete macabro de manchas e destroços estendia-se pela estrada úmida, conduzindo à forma arruinada do caminhão tombado.
O choque e a indignação se revelavam claramente nas faces de todos: moradores da região, motoristas que aguardavam a liberação do trânsito, membros das equipes de resgate. Somente eu tinha a expressão serena.
Conto: A Dama do Beco
10/08/2012Caminhava pela estrada da solidão. Seguia sem destino, pé ante pé, cabisbaixo, enclausurado num aperto acolhedor de braços envolventes. Não notaria coisa alguma, ainda que houvesse o que notar. Por toda parte, silêncio e sombras, como numa noite sem luar, sem estrelas. Por um tempo indefinido, imperceptível, era ele em seu caminho.
Uma faísca de consciência deteve seus passos. Percebeu as trevas e um turbilhão arrasou-lhe o peito. Dúvidas brotaram em sua mente. Falou, gritou, mas não havia som. Em volta, nada que oferecesse respostas. Foi ao chão, trêmulo, recolhido na frágil proteção de um abraço. Era um homem em meio à imensidão do vazio.
6. Há muito mais a temer…
13/09/2011Rarnar estava diante do ataúde de pedra. Enxergando claramente através da escuridão absoluta, os olhos amarelados contemplavam um cadáver inacreditavelmente bem conservado, envolvido por uma manta rústica. Reproduzido nesta, o emblema da maça-estrela respigando sangue identificava os restos mortais. Não havia dúvida de que realmente estava na Torre Alta.
5. Portas Abertas
29/08/2011– Depressa, baixote, diga o que aprontou!
– Já disse que as portas caíram! Não foi minha culpa! Eu só esta-
Guinchos preencheram o ambiente. Atravessando o vazio deixado por uma das portas, uma turba de ratos encharcados surpreendeu a todos e correu freneticamente pelo lugar, metendo-se em frestas e buracos. Meldeau pisou e chutou os que se aproximaram demais.
4. Sombras e Desconfianças
22/08/2011Chovia a cântaros e nenhum outro som ecoava no abrigo. O ar estava pesado e a luz indistinta da lamparina criavam sombras ameaçadoras. Sentados em cantos opostos, Taldor Fendeaço e Rhístel Sanguélfico trocavam olhares, buscando desvendar os pensamentos um do outro.
3. Encontro Inesperado
15/08/2011Taldor encontrou as ruínas da torre momentos antes da tempestade desabar ruidosamente. Todavia, para seu desgosto, o local não fornecia proteção. A única alternativa era abrigar-se sob o outeiro onde a antiga construção fora erigida. Não desejava fazê-lo, mas percebeu que não tinha escolha quando os primeiros raios cortaram os céus.
2. Pelos Ermos Verdejantes
08/08/2011Taldor Fendeaço interrompeu os passos para lançar um olhar preocupado para o céu. Um sol pálido se fez notar no oeste por trás de nuvens cinzentas. Um vento frio soprou através dos cumes gramados, carregando um aroma bem familiar ao jovem anão: chuva. O tempo mudara novamente.